Resenha " A pérola que rompeu a concha" de Nadia Hashimi



Edição: 1
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580417548
Ano: 2017
Páginas: 448
Skoob


"Filhas de um viciado em ópio, Rahima e suas irmãs raramente saem de casa ou vão à escola em meio ao governo opressor do Talibã.Sua única esperança é o antigo costume afegão do bacha posh, que permite àjovem Rahima vestir-se e ser tratada como um garoto até chegar à puberdade, ao período de se casar.Como menino, ela poderá frequentar a escola, ir ao mercado, correr pelas ruas e até sustentar a casa, experimentando um tipo de liberdade antes inimaginável e que vai transformá-la para sempre.Contudo, Rahima não é a primeira mulher da família a adotar esse costume tão singular. Um século antes, sua trisavó Shekiba, que ficou órfã devido a uma epidemia de cólera, salvou-se e construiu uma nova vida de maneira semelhante. A mudança deu início a uma jornada que a levou de uma existência de privações em uma vila rural à opulência do palácio do rei, na efervescente metrópole de Cabul.A pérola que rompeu a concha entrelaça as histórias dessas duas mulheres extraordinárias que, apesar de separadas pelo tempo e pela distância, compartilham a coragem e vão em busca dos mesmos sonhos. Uma comovente narrativa sobre impotência, destino e a busca pela liberdade de controlar os próprios caminhos."




A Pérola que Rompeu a Concha não é um livro que vai te fazer se sentir bem. Sinto que, a pesar de certos momentos terem provocado um sorriso ou um facho de esperança, não houve uma página sequer onde eu, acima de tudo, não me sentisse mal de alguma forma que fosse.

E eu, de modo algum, digo isso como algo negativo. Eu tenho que ser honesta e admitir que no início eu não tinha expectativas tão elevadas pra esse livro, mas com o passar das páginas e dos acontecimentos narrados, eu fui me vendo mais e mais submersa na história, mais e mais envolvida na vida daquelas personagens que foram apresentadas de maneira tão assustadoramente real que por vezes eu me esquecia de que aqueles eram personagens.
E ao mesmo tempo, após convencer a mim mesma que aquelas histórias eram fictícias, eu tinha que me lembrar da parte pior em tudo isso: Aqueles eram sim personagens, mas suas vidas foram e são reais. Mais reais do que qualquer um gosta de se lembrar que são. 

Confesso que eu não queria fazer essa resenha. Esse é um daqueles livros cuja leitura é tão importante para você, que você nunca sente que está fazendo um bom trabalho em descrevê-lo. Eu estou escrevendo isso sabendo muito bem que não vou conseguir te passar nem metade do que eu desejaria, ou do que eu deveria.

Um livro que transcende sua história, ou sua narrativa, e se torna uma experiência importantíssima para nós nos dias de hoje. Enquanto eu lia, me vi envergonhada diante do quão ignorante eu sou quanto à vida no Afeganistão. Eu, que me orgulho ao dizer o quanto amo história, me senti cega diante de coisas tão reais.

E eu sei que ainda não sou, e que eu nunca serei, capaz de entender a cultura completamente, ou de saber como era viver na região nos períodos narrados no livro, ou como foi viver lá semana passada. Mas ao menos agora eu sei disso. A autora, por meio de sua narrativa aparentemente simples, conseguiu me fazer pensar no que eu sempre soube, mas sobre o que nunca antes havia agido. 

Esse livro, mais do que nunca, me fez me lembrar do porquê da luta pelos direitos humanos, ele fortificou em minha mente os motivos pelos quais eu devo usar meus direitos: Para dar voz àquelas que não a tem. Não por luxo, ou por drama, mas sim porque em lugares que eu não vejo, mas que ainda assim estão lá, mulheres ainda sofrem coisas inimagináveis, pessoas, acima de tudo, vivem sem voz, sem olhos, sem vida.

Esse foi, se não estou enganada, o primeiro livro em que, logo depois de terminar de ler, eu imediatamente passei para a entrevista nas páginas finais. Eu queria saber mais sobre a autora, sobre seu processo de escrita. Nadia Hashimi nasceu em Nova York, e no entanto, devido aos seus pais afegãos, cresceu cercada pela cultura, e se viu curiosa diante da visão que o país em que vivia tinha do país no qual sua família vivera.

E por meio dessa entrevista, eu percebi ainda mais o quanto eu não passava de mais uma parte do resto do mundo de pessoas que não entende nada do que acontece fora de seu mundinho. E eu percebi o quanto fora hipócrita em me acostumar a dizer simplesmente "A ideia que temos deles é errada", e me acomodar aí. Fiquei aliviada por ninguém nunca ter me perguntado o porquê dessa ideia ser errada, afinal eu não teria sabido responder. Afinal na própria frase, eu deixava claro minha visão de mundo: Nós e eles.

E não digo isso como alguém que agora se sente super informada. Estou ciente de que provavelmente ainda  não saberia responder a essa pergunta da forma ideal, assim como nunca conseguiria fazer essa resenha de forma ideal. Um livro apenas não pode me mostrar toda uma cultura, toda uma história. Não pode sequer me apresentar a uma parcela das milhões de vidas que passaram pelas limitações de suas culturas. Vidas doloridas que vieram e foram sem fazer alarde.


Livro cedido em parceria pela editora Arqueiro


5 comentários

  1. Uaua Ana que resenha impactante, adorei! Eu confesso que o livro não em chamou atenção num primeiro momento, mas depois de ler seu texto fiquei bem curiosa e entendo sua vontade de não resenhar, às vezes precisamos de um bom tempo pra digerir tudo!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  2. Fiquei com muita vontade de ler depois dessa resenha! O que você disse sobre olhar para fora do nosso "mundinho", me senti assim quando li Persépolis, amo livros que expandem minha visão do mundo.
    Muito obrigada por apresentar esse livro, pretendo ler em breve.

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  3. Oii Ana, tudo bem? Menina que resenha maravilhosa, quero muito ler esse livro depois dos seus comentários, acredito que será um livro que me fará refletir.
    - Beijos,Carol!
    http://entrehistoriasblog.blogspot.com.br/

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  4. Oi Ana, como vai?
    Sua resenha está simplesmente motivadora! Eu ainda não tinha despertado nenhum interesse a respeito deste livro, mas depois de ler sua opinião. Suas considerações. Fiquei com vontade de ler. Vou deixar a dica anotada.
    Bjus
    www.docesletras.com.br

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  5. Oi, Irene!
    Eu vi algumas resenhas desse livro e ele parece ser daqueles bem impactantes mesmo. Eu não estava com muita vontade de ler, mas pretendo dar uma chance sim no futuro.
    Beijos
    Balaio de Babados

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