Resenha da trilogia "Estilhaça-me" de Tahereh Mafi

Estilhaça-me é uma trilogia escrita por Tahereh Mafi e publicado aqui no Brasil pela editora Novo Conceito, que de um modo geral narra a história de Juliette, uma menina sobre a qual não sabemos muito de início além de: 1) Ela está presa em algum lugar; 2) Ela está presa nesse lugar há bastante tempo; e 3) Há algo de errado com ela.



Talvez seja essa inicial falta de informação, e a entrega gradativa que é feita dessa informação conforme a história progride, um dos maiores fatores que mantêm o leitor de alguma forma interessado na protagonista. Afinal, ao menos segundo a minha experiência, Juliette em si, depois que a maior parte de seu passado e o motivo de estar presa são revelados, não foi o suficiente para me interessar ou me fazer me simpatizar por ela.

Não me entenda errado, não foi exatamente minha intensão começar essa resenha com uma opinião negativa sobre esses livros, até porque minha experiência com Estilhaça-me foi boa. Eu diria que uma experiência digna de 3 de 5 estrelas.

Mas não posso evitar que um dos fatores que mais me fez reduzir essa nota tenha sido a personagem principal. Como eu disse, depois que conhecemos ao menos a base de Juliette (Uma garota que possui o toque letal e um passado de rejeição) e somos deixados com apenas sua personalidade, ela mostra-se extremamente vazia e sem profundidade alguma.

De início a narrativa poética é agradável de ler, daquelas que te faz ter empatia por quem quer que sejam os personagens e que te faz querer continuar lendo, apenas para experienciar a escrita - Ainda mais para pessoas como eu, que gostam de narrativas mais descritivas e contemplativas - tanto que eu li o primeiro livro quase todo em apenas uma noite de insônia. O problema é que a autora pareceu não ser capaz de se controlar, e sua escrita, ainda que bela, torna-se incômoda e repetitiva em diversos momentos, em especial nas cenas mais carregadas de algum tipo de ação.

Não me entenda mal, ela é boa para narrar tensão e sofrimento... Tensão e sofrimento... Tensão e sofrimento... Até o ponto em que você sente que tensão e sofrimento já não é mais o que você precisa naqueles livros.

Ela insere alguns alívios cômicos aqui e ali, e alguns deles até me fizeram sorrir, no entanto, como estamos presos no ponto de vista de Juliette, que parece ver sofrimento até num agradável banho de banheira, o livro é majoritariamente "pra baixo". Mas me entenda: Eu leio muitos livros que trazem dramas, e personagens que passam por momentos terríveis, e eu aprecio autores que sabem trazer a realidade como é, sem deixar as coisas bonitinhas, porque muitas vezes as coisas não são. Eu sei apreciar uma escrita que sabe passar a melancolia dos personagens e do momento, e que te envolve e te faz se sentir triste... Mas que fazem isso da maneira certa. E enquanto Tahereh Mafi soube perfeitamente como fazer isso em diversos momentos, várias vezes ela conseguiu apenas soar repetitiva e dramática. E isso com o tempo pode se tornar incômodo.

E aqui vem outro porém: Eu entendi que isso fazia parte da formação da personagem principal. Durante diversos momentos na história ela recebe broncas por se fazer de coitadinha demais, afinal não era só ela que estava sofrendo, e ela estava se mostrando extremamente egoísta diante de uma situação tão extrema quanto a beira de uma revolução contra um governo autoritário e terrível para com seu grupo. O grupo que a acolheu e cuidou dela. E o grupo que ela retribuiu com nada além de choramingos e "Ah, mas o meu namorado...!".

Então eu entendo que a autora pretendesse, com isso, mostrar que Juliette não é perfeita, e os anos sendo tratada como lixo por todos os seres humanos que encontrou pelo caminho tiveram consequências em sua personalidade. Eu gosto quando autores sabem fazer personagens falhos. Mais do que isso: Falhas são necessárias para te fazer se relacionar com aqueles sobre quem está lendo.

No entanto, ficar presa no ponto de vista dessa adolescente fechada em sua própria bolha, por vezes pode ser quase insuportável.

Mais cedo aqui nessa resenha eu falei sobre o namoradinho da protagonista... E alguém pode por favor matar aquele garoto? Qualquer um dos dois, na verdade. Só quero me livrar desse romance vazio, sem química, e extremamente dramático. Não tenho preferências.

Eu tendo a ser muito crítica com romances, em muitos casos até demais, então provavelmente muitos de vocês gostariam do relacionamento dos dois. Eu, no entanto, logo vi que o interesse romântico, assim como a protagonista, não tinha profundidade suficiente. E assim que os primeiros tons de romance vieram a tona, eu já sabia que quando se mistura água com açúcar com mais água com açúcar, tem-se apenas uma quantidade repugnante de água com açúcar.

Talvez eu esteja sendo crítica demais com o livro em si. Essa trilogia foi muito adorada por diversas pessoas, e eu mesma gostei dela como um todo... Mas se tem uma coisa que eu prezo numa história são personagens bem desenvolvidos. E nesse livro, por mais que tenhamos sim alguns bem interessantes, aqueles que teoricamente deveriam ter sido mal trabalhados são vazios.

Tenho que dar um crédito para a autora: Ela sabe escrever vilões reais e complexos. Na verdade, a complexidade deles por vezes me fez gostar mais dos vilões que dos "mocinhos", e isso eu não sei se foi proposital, mas vou fingir que foi, porque ela fez isso muito bem para ter sido por acidente.

Conclusão: Premissa interessante, narrativa bonita (Ainda que por vezes excessiva), personagens que variam entre vazios e belamente complexos, e um desenvolvimento do enredo e do mundo que poderia ter sido melhor, mas que acabou ficando de lado conforme os personagens se tornaram um foco muito maior, ao menos na minha cabeça.


"Os três primeiros livros desta série foram publicados pela editora Novo Conceito.
Agora os direitos de publicação passaram para a Universo  dos Livros assim como a a redição de todos os livros da série. Para alegria dos fãs o quarto livro "Restaura-me"  já se encontra em Pré-Venda 

Um comentário

  1. Oi, Ana!
    É tão ruim quando a gente não gosta do personagem principal. Já passei por isso algumas vezes. Eu já não sou fã de romance, romance vazio então...
    Adorei a resenha!
    Beijo

    Canastra Literária

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